Ninguém fala sobre isso. Ninguém fala sobre a dor silenciosa de se olhar no espelho e não se reconhecer como alguém bonita, desejável, capaz de fazer o coração de alguém acelerar. Ninguém comenta sobre o peso de se sentir invisível para a pessoa que deveria enxergar cada detalhe e encontrar beleza justamente onde você se vê imperfeita.
É um sentimento que corrói aos poucos, que se infiltra entre as inseguranças já existentes e as multiplica. Você anda pela rua e percebe olhares. Mas não aqueles que importam. Não os que você gostaria. Pessoas desconhecidas te olham, desejam, mas o desejo delas não te pertence. O único olhar que você queria sobre si está frio, distante, acostumado demais com a sua presença para enxergar o brilho que talvez um dia tenha existido.
O mais doloroso é perceber que, em algum momento, você se amava mais. Que já olhou para si mesma com menos julgamento e mais carinho. Mas esse pouco que restava foi se dissolvendo nas entrelinhas de palavras não ditas, na ausência de toques, no desinteresse velado. E então, um dia, você acorda e sente vergonha de quem se tornou. Não por quem você é, mas pelo que passou a acreditar sobre si mesma.
Ninguém fala sobre o constrangimento de perceber que, para alguém, você deixou de ser especial. Que seu reflexo perdeu o encanto. Que seu toque não desperta mais nada.. mas talvez nunca tenha despertado, era tudo fruto da sua própria imaginação. Porque no mesmo minuto que você deixou de falar, de registrar, de tocar, de amar.. tudo morreu. E morreu porque? Obviamente porque nunca existiu.
Eu te contei sobre as minhas inseguranças e foi bem lá que a sua falta de cuidado me socou.
Você nunca dizia nada. Eu implorava por um sinal, um gesto, qualquer coisa que me fizesse sentir vista, desejada, amada. Mas o silêncio sempre foi sua resposta. E quando, enfim, você decidiu falar, tudo o que saiu da sua boca foi um golpe: “Antes, você era mais bonita. Antes, você se cuidava mais.” Que antes era esse? Quando? Que você nunca me disse nada. Nem antes, nem agora, nem nunca? Antes de eu entender que amor não deveria doer? Antes de eu perceber que me anulava para caber na sua indiferença? Antes, quando eu ainda me iludia, acreditando que o que tínhamos era amor?
Se eu parecia mais bonita naquela época, talvez fosse porque eu ainda brilhava tentando sustentar algo que nunca foi real. Talvez porque eu ainda tinha forças, para acreditar, para me entregar. Mas não era porque você me fazia sentir especial. Era porque eu queria muito ser. Eu queria muito estar ali. Eu me coloquei ali. Eu.
E agora, você diz que mudei. Que já não sou a mesma. Mas como poderia ser? Como poderia continuar me vendo com os mesmos olhos depois de tudo? Depois de tanto me apagar para tentar me encaixar em um espaço que nunca foi meu? O pior de tudo é perceber que, no fundo, você nunca enxergou a verdade. Você só se acostumou com o que eu oferecia e por algum motivo achou que eu sempre me doaria pela vida inteira sem ao menos receber o mínimo em troca.
Ah! E obrigada por nunca me bater, isso é admirável em você. Essa segurança que você me proporciona vale ouro, mas para dar certo você precisa me querer como um dia eu te quis. Pois no momento, a única verdade é que não somos mais nada um do outro.
E eu não me tornei menos bonita. _ Eu só me tornei menos sua.
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